Avanços na Heveicultura: entrevista sobre os Clones do IAC

Solução Tecnológica para a Produção de Borracha Natural no Brasil

Introdução

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) é referência em pesquisas agronômicas no Brasil. Seus estudos sobre clones de seringueira têm revolucionado a produção de borracha natural no país. Para entender melhor esse impacto, entrevistamos Lígia Regina Lima Gouvêa e Erivaldo José Scaloppi Junior, do Centro Avançado de Pesquisa e Desenvolvimento de Seringueira e Sistemas Agroflorestais de Votuporanga-SP. Eles compartilharam detalhes sobre o processo de desenvolvimento dos clones IAC e seu impacto na sustentabilidade e produtividade da heveicultura.


Painel Aberto (PA): Quais foram os principais desafios enfrentados no desenvolvimento dos clones de seringueira?

Lígia Regina Lima Gouvêa e Erivaldo José Scaloppi Junior (IAC):
"O tempo para obter um cultivar é um dos maiores desafios. O ciclo de melhoramento genético da seringueira é longo e envolve etapas sequenciais de avaliação e seleção, levando de 25 a 30 anos. Além disso, há uma demanda grande de mão de obra treinada e a manutenção dos experimentos é dispendiosa. Cruzamentos importantes podem ser de difícil condução devido à sincronia no florescimento dos clones e baixa frutificação. A seleção é realizada para múltiplos caracteres, como produção de borracha, crescimento vigoroso, espessura da casca, regeneração da casca, tolerância às doenças e ao vento. Como resultado, trabalha-se com um grande volume de dados, sendo necessárias ferramentas genético-estatísticas para auxiliar na análise e seleção dos materiais."

PA: Como é o processo de seleção e melhoramento genético desses clones?

IAC:
"O ciclo de melhoramento genético envolve três etapas sequenciais de seleção. Na primeira etapa, progênies jovens obtidas a partir de polinização aberta ou controlada são avaliadas e a seleção precoce é realizada por volta de 2 anos e meio. Os melhores indivíduos são clonados. Na segunda etapa, os clones selecionados são avaliados em um local por vários anos em Experimentos de Pequena Escala. Na última etapa, clones são avaliados em diferentes locais e anos em experimentos de Grande Escala."

IAC 418. Foto: reprodução

PA: Quais foram os critérios utilizados para desenvolver os clones IAC 502, 505, 507, 511 e 512?

IAC:
"Os critérios foram os citados acima, correspondendo ao método de melhoramento clássico. No início de cada ciclo de melhoramento genético e seleção, milhares de genótipos são obtidos e avaliados. No ciclo que deu origem aos clones da série IAC 500, nove clones tiveram grande destaque."


PA: Quais são as principais características de cada clone (produtividade, resistência a doenças, adaptabilidade)?

IAC:
"As características dos cultivares de seringueira podem ser visualizadas no Portfólio do IAC na Plataforma BlueIn."

PA: Como esses clones se comportam em diferentes regiões climáticas do Brasil?

IAC:
"A recomendação de cultivo desses clones limita-se à região do Planalto do Estado de São Paulo."


PA: Qual foi o impacto desses clones na produtividade das seringueiras no Brasil?

IAC:
"No Estado de São Paulo, os clones IAC têm potencial de atingir produtividade superior a 70% em relação aos clones tradicionais. Estima-se que 80% dos novos plantios são constituídos por clones IAC, especialmente os clones IAC 502 e IAC 418. O clone IAC 502 tem possibilitado a abertura de painel em árvores com 5 anos de idade em algumas localidades."

PA: Como os clones do IAC contribuem para a sustentabilidade da produção de borracha natural?

IAC:
"São clones com alto potencial produtivo quando comparados ao RRIM 600 e com boa tolerância a pragas e doenças. A arquitetura de copa mais ereta permite melhor incidência de luz quando cultivados em sistemas integrados. Os clones IAC 500, IAC 502, IAC 503, IAC 505 e 511 são precoces, reduzindo o tempo para o seringal entrar em sangria e garantindo ao produtor retorno financeiro antecipado em relação aos clones tradicionais."

PA: Existem planos para desenvolver novos clones no futuro? Se sim, quais são as expectativas?

IAC:
"O melhoramento genético é um processo contínuo. Há experimentos em avaliação em diferentes etapas do ciclo. A expectativa é continuar obtendo clones produtivos e com as demais características de interesse, bem como atender às demandas que surgirem. Diante das alterações climáticas, é importante avaliar materiais produtivos em situações de estresses bióticos (pragas e doenças) e abióticos (seca, temperaturas extremas, por exemplo)."


Clone IAC 406. Foto: reprodução

PA: Como a tecnologia tem sido utilizada no processo de desenvolvimento dos clones?

IAC:
"Em todas as etapas do ciclo de melhoramento genético há geração de um grande volume de dados. Esses dados são analisados utilizando programas estatísticos e seleção genética computadorizada. Trabalhos em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) na área de genética molecular resultaram em mapas de ligação associados a características de interesse para o melhoramento genético. Esses mapas são ferramentas para seleção assistida por marcadores moleculares, visando reduzir o ciclo de melhoramento genético. Marcadores moleculares também são usados na caracterização da diversidade de acessos que compõem o banco de germoplasma do IAC."

PA: Quais são as inovações mais recentes introduzidas pelo IAC na pesquisa de seringueira?

IAC:
"Em parceria com a Unicamp, foi empregada a tecnologia de aprendizado de máquina na predição de dados fenotípicos da seringueira."


PA: Como o IAC colabora com outras instituições e produtores na disseminação desses clones?

IAC:
"O IAC desenvolve novos clones e é mantenedor, junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), do Registro Nacional de Cultivares (RNC). A difusão de tecnologia é realizada através da transferência de clones elite na forma de material propagativo certificado de Plantas Matrizes aos produtores de mudas credenciados. Atualmente, o setor produtivo experimenta uma mudança de paradigma em produtividade e qualidade com os clones IAC, cujo potencial produtivo é muito superior em relação aos clones tradicionais. Em parceria com o setor privado, o IAC implanta vitrines tecnológicas com clones avançados em propriedades de referência gerencial, sendo uma ferramenta estratégica na divulgação de novos produtos tecnológicos."

PA: Existem programas de suporte e treinamento para produtores interessados em adotar esses clones?

IAC:
"Sim, o Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais de Votuporanga está de portas abertas para recepcionar o público interessado em saber mais sobre as tecnologias desenvolvidas pelo IAC."


PA: Quais são os próximos passos na pesquisa e desenvolvimento de seringueiras no IAC?

IAC:
"Avaliação e seleção de clones produtivos em situação de estresse hídrico, tolerantes ao frio e com tolerância a doenças e pragas."

PA: Como o IAC vê o futuro da produção de borracha natural no Brasil?

IAC:
"O Brasil é um país com uma grande área apta ao cultivo da seringueira e há cultivares e tecnologias disponíveis para aumentar a produtividade. O Brasil tem enorme potencial para aumentar a produção de borracha e atingir a autossuficiência."


A entrevista com Lígia Regina Lima Gouvêa e Erivaldo José Scaloppi Junior do IAC revela a profundidade e a complexidade do trabalho realizado para desenvolver clones de seringueira que não só aumentam a produtividade, mas também contribuem para a sustentabilidade da produção de borracha natural no Brasil. O compromisso contínuo do IAC com a inovação e a colaboração com outras instituições assegura um futuro promissor para a heveicultura no país.

Para mais informações, acesse o Registro Nacional de Cultivares do MAPA e o Portfólio do IAC na Plataforma BlueIn.