Déficit global impulsiona preços e abre oportunidades para produtores de borracha natural em 2025

O mercado global de borracha natural deve continuar registrando déficit de oferta e oscilações de preços em 2025. A safra paulista crescerá 8,8%, mas produtores precisam se preparar para novas exigências de sustentabilidade, gestão de mão de obra e exploração de mercados diversificados.

Introdução

O mercado de borracha natural inicia 2025 com um contexto de escassez e volatilidade. Projeções da Associação dos Países Produtores de Borracha Natural (ANRPC) indicam que a produção mundial crescerá apenas 0,3%, alcançando cerca de 14,9 milhões de toneladas, enquanto o consumo global deverá avançar 1,8%, para 15,6 milhões de toneladas. Esse descompasso implica déficit de aproximadamente 700 mil toneladas, segundo estimativas que apontam falta de 1,2 milhão de toneladas de oferta. Para o produtor brasileiro, compreender esse cenário global é essencial para planejar investimentos e capturar oportunidades.

Panorama global da oferta e demanda

A oferta mundial continua concentrada na Ásia. Tailândia, Indonésia e Vietnã respondem por mais de dois terços da produção, mas enfrentam problemas climáticos e queda de produtividade. O Banco Mundial informa que a produção global subiu cerca de 4% nos 12 meses encerrados em maio de 2025, puxada pelos três principais países produtores. Apesar disso, a demanda do setor automobilístico – responsável por cerca de dois terços do consumo – permanece fraca: a produção de pneus para veículos leves recuou 0,6% e a de veículos pesados caiu 2,3% no primeiro trimestre.

Esse ambiente pressionou os preços internacionais. Após ultrapassarem US$ 2/kg no início do ano, as cotações caíram 14% em abril e maio. Dados mensais do mercado futuro em Cingapura apontam queda de US$ 2,37/kg em janeiro para US$ 2,13/kg em abril, com recuperação a US$ 2,19/kg em maio e leve recuo em junho. Apesar da correção, analistas acreditam que os preços devem permanecer sustentados em 2025 devido à oferta restrita, com possíveis ajustes em 2026.

Tendências e fatores estruturais

Além da oferta enxuta, fatores estruturais influenciam o mercado:

1. Demanda resiliente – Embora o setor automobilístico esteja em desaceleração em algumas regiões, o avanço dos veículos elétricos e a expansão do mercado de luvas e cateteres continuam impulsionando o consumo de borracha natural. O segmento médico projeta crescimento anual de 6,4% entre 2025 e 2029.

2. Sustentabilidade e rastreabilidade – A Regulamentação Europeia de Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) entrará em vigor em 30 de dezembro de 2025, exigindo que importadores de borracha apresentem declarações de diligência e comprovem a geolocalização das áreas produtoras. Essa norma aumenta a pressão por rastreabilidade e abre espaço para produtores brasileiros que investirem em sistemas de gestão e certificação.

3. Clima e doenças – Plantios asiáticos enfrentaram chuvas excessivas e tempestades; em 2024 um tufão prejudicou colheitas no Vietnã e defaultes em contratos reduziram o fluxo de exportações. A fertilidade das árvores também é afetada por doenças foliares graves, como Corynespora, que provocam perdas significativas.

4. Diversificar mercados e produtos – O crescimento da demanda por luvas e itens médicos e a valorização do mercado de madeira de seringueira (rubberwood), usada na indústria moveleira, oferecem alternativas de receita. Após 25–30 anos de produção de látex, as árvores podem ser destinadas à madeira, agregando valor ao sistema.

5. Fortalecer gestão da mão de obra – A sangria da seringueira exige técnica e precisão. Investir em capacitação e retenção de trabalhadores é fundamental para manter produtividade e qualidade do coágulo.

Brasil em foco: preços e safra paulista

O Brasil é o maior produtor de borracha natural da América Latina e responde por aproximadamente 50% de seu próprio consumo. O Estado de São Paulo é o principal polo, responsável por 65% da produção nacional. Para a safra 2024/25, o Instituto de Economia Agrícola (IEA) prevê que o estado colha 266 mil toneladas, alta de 8,8% em relação à safra anterior. Entretanto, produtores relatam quebra de safra em algumas regiões devido a adversidades climáticas e falta de mão de obra.

Os preços pagos ao produtor paulista atingiram níveis recordes. Em fevereiro de 2025, o quilo do coágulo (látex coagulado) foi negociado a R$ 6,65, 118% acima do valor médio de 2024 (R$ 3,05/kg). Paralelamente, o preço de referência de importação da borracha natural, calculado pela CNA e pelo IEA, ficou em R$ 15,40/kg em março e R$ 13,16/kg em julho, evidenciando volatilidade no mercado. Esses índices servem de parâmetro para negociações internas e refletem a valorização da matéria-prima no exterior.

Apesar da perspectiva de safra maior em São Paulo, o setor enfrenta desafios estruturais: redução de área plantada de 11,2% nos últimos dois anos e migração de trabalhadores para outras culturas. Produtores e associações avaliam que a escassez global deve manter os preços firmes por pelo menos três anos, pois a demanda global permanecerá cerca de 1,5% acima da oferta.

A seringueira: bases agronômicas

A Hevea brasiliensis, conhecida como seringueira, é a principal fonte de látex. A cultura prospera em regiões tropicais com temperatura média entre 20 °C e 28 °C e precipitação anual de 1.800–2.000 mm, preferencialmente até 600 m de altitude. O plantio costuma adotar densidade de 500 árvores por hectare; as plantas levam de 5 a 10 anos para atingir o diâmetro de 50 cm necessário para o início da sangria. Após atingirem a maturidade, as árvores podem ser exploradas por 25 a 30 anos. Boas práticas de manejo incluem cortes precisos para não danificar o tronco e preservar a produtividade.

A cultura é suscetível a pragas e doenças. Levantamento do International Rubber Research and Development Board (IRRDB) identificou 22 doenças graves, incluindo a Corynespora Leaf Fall e o Oidium Leaf Fall, presentes em diversos países asiáticos. Monitoramento fitossanitário contínuo e utilização de clones mais resistentes são medidas essenciais para evitar perdas.

Estratégias para o produtor brasileiro

Diante desse cenário, produtores brasileiros podem adotar estratégias para ganhar competitividade:

- Planejar investimentos em sistemas de rastreabilidade e certificações para atender às exigências de sustentabilidade e acessar mercados premium.


- Diversificar mercados e produtos, explorando oportunidades em itens médicos, madeira de seringueira e até mercados de pneus verdes para veículos elétricos.


- Fortalecer a gestão da mão de obra, investindo em capacitação e retenção de sangradores, com remuneração alinhada aos preços em alta.


- Incorporar tecnologias de previsão climática, gestão agronômica e contratos digitais para melhorar a eficiência e reduzir riscos.

Conclusão

O ano de 2025 apresenta um cenário singular para o setor de borracha natural. O déficit entre produção e consumo no mercado internacional, as oscilações de preço e as novas exigências de sustentabilidade compõem um ambiente desafiador, mas repleto de oportunidades. Para os seringueiros brasileiros, a combinação de preços remuneradores, avanço tecnológico e políticas de sustentabilidade pode alavancar a competitividade e abrir novas fronteiras comerciais. Planejar com base em dados e adotar estratégias de longo prazo serão diferenciais para aproveitar o ciclo de alta e construir um setor mais resiliente.