Dólar forte, petróleo e clima: fatores por trás da volatilidade do mercado global de borracha natural
A volatilidade nos preços da borracha natural decorre de um déficit global persistente e de fatores como dólar forte, oscilações do petróleo e eventos climáticos. Veja como esses elementos afetam a competitividade e as estratégias do heveicultor brasileiro.
Introdução
O mercado global de borracha natural atravessa um período de volatilidade. A ANRPC projeta que, em 2025, a produção mundial crescerá apenas 0,3 %, para 14,9 milhões de toneladas, enquanto o consumo deve atingir 15,6 milhões. Esse quinto ano consecutivo de déficit mantém os preços da borracha em patamares elevados e cria um cenário em que eventos macroeconômicos e climáticos ganham peso na formação das cotações.
Dólar forte e política monetária
A valorização do dólar tem sido um fator baixista em 2025. No Japão, contratos futuros de borracha são negociados em ienes; quando o dólar sobe para patamares ao redor de ¥147 por dólar, ativos denominados em iene tornam-se menos atrativos para investidores internacionais. Um dólar forte encarece as importações de borracha para compradores fora dos EUA, reduzindo a demanda e exercendo pressão sobre os preços. Analistas acompanham a reunião de Jackson Hole do Federal Reserve; qualquer sinal de política monetária mais permissiva pode enfraquecer o dólar e apoiar as cotações.
Petróleo, OPEP+ e competição com borracha sintética
A borracha natural compete com a borracha sintética, derivada do petróleo; por isso, os preços do petróleo são um indicador importante. Nos últimos meses, os preços subiram em meio a perspectivas de demanda firme e tensões geopolíticas; a ANRPC observou que o petróleo em alta tornou a borracha natural mais competitiva. Ao mesmo tempo, decisões da OPEP+ sobre cortes ou aumentos de produção podem alterar o custo das matérias‑primas e do transporte. Relatórios de agosto destacam que um aumento de oferta da OPEP+ poderia derrubar o preço do petróleo, pressionando as cotações da borracha, enquanto cortes adicionais tenderiam a sustentá‑la.
Clima, oferta e déficit estrutural
Embora os principais países produtores estejam entrando no pico da colheita, chuvas fortes e inundações ameaçam a produção. Entre 21 e 26 de agosto, autoridades tailandesas alertaram para possibilidade de enchentes em 37 províncias, o que poderia afetar a colheita. A produção costuma diminuir de fevereiro a maio e atingir seu pico até setembro. Paralelamente, anos de preços baixos levaram produtores da Indonésia e do Vietnã a substituírem seringais por culturas mais rentáveis; a Reuters estima que a produção da Indonésia caia 9,8 %, para 2,04 milhões de toneladas, e a do Vietnã recua 1,3 %, enquanto a da Tailândia cresce apenas 1,2 %. O desequilíbrio entre produção e consumo, portanto, deve persistir até o final da década.
Demanda: China, Índia e veículos elétricos
A demanda por borracha natural é impulsionada principalmente pelo setor automotivo e de pneus. Em 2025, a ANRPC prevê que o consumo chinês aumente 2,5 % e o indiano 3,4 %. No entanto, indicadores recentes mostram um desaquecimento na economia chinesa, que poderia reduzir a procura. A mesma fonte afirma que a fabricante chinesa de veículos elétricos Xpeng espera dobrar sua receita devido ao estímulo governamental. Qualquer retomada na produção de carros, especialmente veículos elétricos, tende a sustentar a demanda por borracha natural.
Preços e estratégias para o heveicultor brasileiro
No início da semana de 22 de agosto, contratos futuros negociados em Osaka fecharam próximos de ¥271 por kg, valorizando-se com a alta do petróleo e preocupações climáticas. Em outras bolsas asiáticas, o comportamento foi semelhante, embora alguns pregões tenham registrado quedas devido a estoques elevados e demanda fraca. Segundo Trading Economics, os preços se situavam em torno de 171 US¢/kg, perto dos maiores patamares desde julho; a plataforma projeta recuo para 167,41 US¢/kg no final do trimestre e 156,26 US¢/kg em 12 meses. Essa combinação de cotações elevadas e expectativa de correção exige prudência.
Para o heveicultor brasileiro, que responde por menos de 2 % da produção global mas conta com vantagens de clima, terra e tecnologia, a volatilidade oferece oportunidades. Entre as estratégias recomendadas estão:
- Monitoramento cambial: Acompanhar as oscilações do dólar e avaliar a necessidade de instrumentos de hedge para exportações.
- Gestão de custos: Aproveitar momentos de preços firmes para renegociar contratos ou travar vendas futuras.
- Investimento em tecnologia: Adotar ferramentas de rastreabilidade, previsões climáticas e gestão do seringal — como o aplicativo Seringueiro — para otimizar produtividade.
- Atenção à sustentabilidade: Projetos como RenovaBor e a regulamentação europeia contra desmatamento podem impactar o comércio; práticas sustentáveis aumentam a competitividade.
- Diversificação e transformação: Considerar agregar valor à produção com beneficiamento ou integrações industriais.
Conclusão
A volatilidade no mercado de borracha natural em 2025 decorre não apenas do déficit estrutural, mas de variáveis macroeconômicas e climáticas. Um dólar forte pode limitar a demanda, ao passo que a oscilação dos preços do petróleo e eventos climáticos extremos adicionam imprevisibilidade. Para o heveicultor brasileiro, o cenário exige análise constante dos mercados e adoção de estratégias de gestão de risco. Com planejamento, inovação e sustentabilidade, é possível transformar a volatilidade em oportunidade e fortalecer o posicionamento no mercado global.
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